55 túlipas e igual número de beijinhos...

Cheguei à residência pertinho das 19h. Depois de mais de três horas de aulas a falar de Partidos Políticos e Sistemas Partidários o que mais me apetece é descansar, mas antes tenho ainda uma aula para preparar, alguns emails para enviar e tenho que ir até à passadeira. Lá vou correr para parte nenhuma, desafiando-me apenas a mim...

Deixo que a voz da Mariza ecoe pelo quarto, enquanto me preparo para ir transpirar o stress. E no silêncio sonoro do meu quarto vens-me à memória. Estiveste todo o dia no meu pensamento, mas agora que resto apenas eu o silêncio, a memória torna-se mais vivida, intensa, quase real. Penso em como terás acordado cedo, quase duas horas antes de saires de casa.

Talvez tenhas aquele pijama roxo fofinho, que por esses lados ainda as noites são frias. Terás acordado, e talvez feito duas ou três rondas do "Palavraz". Até que o Bob, algures escondido acorde, e te comece às lambidelas. Consigo quase imaginar-te a levantar, colocar o pijama e dizeres com a tua voz doce: "Bob vamos à rua". Mais rápido que uma flecha, o Bob segue para a porta com o entusiasmo do passeio matinal.

Ana Moura termina de cantar. Olho as horas. Passam dois minutos das 19h. Reconheço a voz da Carminho. E volto às memórias, que nunca me abandonam. Irás passear com o Bob, enquanto pensas no que deixar para o almoço da Inês e talvez no que fazer para o jantar, que não devias ser tu a preparar. Sorrio. Pensas sempre primeiro nos outros e depois nos outros... e só depois em ti!

Quase aposto que após o passeio matinal, segues para a casa. E enquanto o Bob mordisca a sua comida, ou ataca o sofá, tu vais-te arranjando e deixando tudo pronto. Se for preciso abdicas do teu pequeno-almoço, para ter um almoço do qual não desfrutarás pronto. Filomenices... Antes de saires deixas um bilhete com instruções, assinado com o teu ternurento "Mãe Mena".

Fecho a porta do quarto, coloco os auriculares para terminar de ouvir António Zambujo. Sigo para a zona de exercícios na residência. E penso como terás beijinhos de parabéns das colegas, de alguns papás e de algumas mamãs e talvez até dos meninos e meninas da tua sala. E se não tiveres são eles que mais perdem... E depois segues para casa, para preparar um jantar para que te celebrem.

A Inês virá do trabalho com fome, a Catarina cansada, e o Bob andará em busca da generosidade alheia. E terão sorrisos, e conversas e talvez fotos. E chegará o bolo e o Parabéns a você. Virão presentes e flores e beijinhos e se a coisa se proporcionar café e digestivo. E depois ficas tu a limpar a tua festa, que tu organizaste. E fico eu, aqui, longe mas sentindo-te perto.

Sinto as lágrimas, três ou quatro, escaparem dos meus olhos e rolarem pelo rosto. Não estou triste. Estou longe, é certo, e não estarei aí para te dar as merecidas 55 túlipas, talvez da cor do pijama fofinho com que acordaste de manhã... Mas estou contente, saudoso, mas contente. Porque destes 55 ciclos fiz parte de 30 e pude aprender e crescer contigo.

Mais uma lágrima rola pelo rosto, mas estou feliz. Porque hoje celebro-te de longe, sem o toque da pele na pele, mas com os sentimentos de coração para coração; mas sei que no Verão te poderei celebrar de perto. E beberemos chá no final da noite, com bolo caseiro feito por ti, enquanto vemos uma qualquer série ou filme.

O teu dia não é hoje, mas sempre. Porque todas as noites te desejo boas noites e todas as manhãs te digo bom-dia, mesmo que quase sempre sem palavras. Porque no silêncio o som das palavras perde-se, mas a vibração dos sentidos fica. Porque hoje celebramos os 55 ciclos já completos, mas amanhã e depois e depois e depois celebramos-te apenas a ti: PARABÉNS MÃE!


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